Por: Cinthia Campanário – 17/12/2019
O cidadão Kane nosso de cada dia acorda, se espreguiça, respira e, no seu íntimo, deseja mais uma manhã que o mundo o reconheça e o realize.
Assim começa a jornada de fazer para receber em troca.
Me confundo se trata-se da ficção ou da realidade, mas se a arte imita a vida, posso apostar que a vida imita a arte. E não vamos muito longe com isso.
Um singelo equívoco entre ator e autor, entre quem deseja e quem realiza é o pano de fundo. Da ficção e da realidade.
Quando Fritz Perls fala em proflexão, se refere a atitude de fazer ao outro o que gostaria-se que fosse feito a si próprio. Por um bloqueio na percepção e pouca responsabilização sobre si mesmo, o Cidadão, do filme e da vida, investe apostando no retorno, na devolução de um afeto que não está sob seu controle.
Relações pressupõe honestidade e envolvimento. Kane, e tanta gente, se engana apostando na garantia de obter o que deseja manipulando o sentimento e autonomia alheia a seu favor.
O anti-herói arrogante, egoísta e manipulador há de perder a aposta. E sofrer. E adoecer.
Profilaxia elementar seria mudar o foco. O autor pode, e deve, desempenhar o seu papel. Ele mesmo é o ator. Ele mesmo há de ser o agente de busca e autorrealização.
Pronto, ilustre cidadão Kane, você não precisa mais pagar para ter amor, não precisa construir um império para ser reconhecido, não precisa articular notícias duvidosas e cruéis para ganhar dinheiro e poder comprar amor, ou construir impérios ou publicar novas notícias dispensáveis.
Pronto, cada um de nós, que pode amar-se, reconhecer-se e valorizar por tudo aquilo que pensa, sente e faz, sem emaranhar o resto do mundo em sua peça do teatro da vida.
Por: Cinthia Campanário
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