Por: Cinthia Campanário 15/01/2019
Resort de férias, pacote all inclusive.
Quarto confortável, comida gostosa e farta, sucos e bebidas, até as alcoólicas, sol, piscina, crianças gritando, mordidas de mosquito e, talvez, um parcelamento em suaves prestações ao longo do ano.
A aventura chamada vida é exatamente a mesma coisa. Só um instante, vamos devagar que dá pra entender.
Viver talvez seja apenas um breve período indeterminado entre dois acontecimentos aleatórios – nascer e morrer.
E aí está tudo incluído: liberdade, responsabilidade, problemas, dinheiro, amor, família, cinema, big mac, sexo, tijolos, guitarra, erros, frustrações, dieta, livros, perdas, pedras, amigos e carácteres infinitos.
Existir, gritou Sartre para o mundo todo, é topar com um início qualquer, não saber quando terminará, e encontrar e dar sentido a toda sorte de situações entre uma coisa e outra.
Pois é, o pacote é completo! Tudo! Inteiro! Integrado! Um todo maior do que a soma das várias partes.
E então, como fazer desse resort um bom programa? Como fazer da vida uma experiência existencial interessante?
Sei lá se existem receitas ou fórmulas infalíveis nem para um, nem para o outro, mas penso que um ponto importante para curtir as férias seja nos preparar para aceitar as crianças gritando, os mosquitos e as parcelas para que possamos desfrutar a cama confortável, a comida desmedida e tudo mais.
Na vida, por sua vez, o que nos cabe, portanto, é aceitar frustrações, erros e perdas enquanto trabalhamos, ganhamos dinheiro, amamos, temos filhos ou não.
Basta ultrapassarmos uma pá de anos e atingir certa maturidade para entender que a perfeição é uma utopia. Uma utopia necessária, como o horizonte de Galeano. A perfeição nos inspira, nos motiva. E só.
Para além disso, existe a realidade. A realidade, aquela permeada pelas inconstâncias, descontroles, desgostos, dores e falhas.
Declara-se, assim, aberta a temporada onde falhar está permitido. Sofrer também. E, principalmente, viver. Está permitido viver.
Nem tudo sai como planejado, nem todo amor é cor-de-rosa, nem todo dinheiro é nota de cem reais. Mas ainda assim, é seguro: viver é incrível.
O autoconhecimento é um bom guia de turismo, o respeito pelo acaso e pelo que não pode ser entendido são boas hospedagens, os aprendizados são a sobremesa de cada refeição.
Por mais que nossa modernidade líquida, sólida e gasosa sugira uma felicidade plena real, entender que dentro desse conto de fadas sem fadas tem folhas rasuradas e capítulos mal escritos é uma conquista, um crescimento que vale muito mais do que o pagamento da parcela dez de dez.
Isso tudo é retórica demais para dizer apenas que integrar conquistas e fracassos, boa acomodação e crianças gritando, amor e perdas, comida liberada e mordida de mosquito é uma boa ideia!
Pode apostar! E se ainda tiver dúvida… bom, que ótimo que tenha dúvidas!
Assim podemos declarar aberta também a temporada das dúvidas!
Cinthia Campanário
Psicóloga (Gestalt-terapeuta)
Contato: cinthiacampa@gmail.com