Por: Ticha (Patrícia Albuquerque Lima) 13/01/2019
Esta é uma época do ano em que sempre fazemos muitas promessas e temos a esperança de que iremos tomar uma série de providências no sentido de resolver pendências que ficaram do ano anterior. Quem não conhece aquela famosa frase: “no começo do ano irei parar de fumar” ou até “irei perder alguns quilos” e outras ideias deste gênero.
Muitas vezes, estas promessas nos servem como motivadores para agirmos e começarmos, de fato, a tomarmos algumas atitudes e a mudarmos algumas posturas na nossa vida. No entanto, para a grande maioria das pessoas estas promessas não passam de “ilusões de solução” de alguns assuntos que nos incomodam, sem que tenham exatamente nenhum valor prático e resultem em alguma mudança efetiva de vida.
De um modo geral, o que todos buscamos através destas promessas é uma melhora na qualidade de vida, um maior bem-estar – seja este físico, psíquico ou social. Mas, afinal de contas, qual é a medida para se avaliar o grau de bem-estar de uma pessoa e o que, exatamente, podemos entender por isto?
O conceito de bem estar é um conceito bastante difundido mas, ao mesmo tempo, usado nem sempre de um forma rigorosa e podendo estar sujeito a diversas interpretações. Talvez uma das grandes dificuldades de se definir este conceito esteja no fato de que o bem estar é uma medida subjetiva que envolve tantos aspectos físicos e concretos (boa saúde, uma vida financeira estável e satisfatória), quanto outros puramente subjetivos como o grau de satisfação que uma pessoa tem na sua vida profissional e/ ou afetiva, se esta pessoa se considera uma pessoa feliz e se ela possui uma boa rede de relacionamentos sociais e uma vida interessante em termos de lazer e ocupações.
Sem dúvida, bem-estar é algo que todo e qualquer ser humano almeja alcançar. Sendo assim, por que será então que é tão difícil obtê-lo e, estas nossas promessas de começo de ano viram quase que um chavão daqueles que muitas pessoas repetem, mas que de fato nunca se cumprem?
O que talvez muitos de nós não percebamos é que para se obter o tão desejado bem-estar precisamos de vários modos, estarmos bem o suficiente para conseguirmos agir nesta direção e promovermos as mudanças necessárias em nós mesmo e na nossa vida que nos levem a isto. No entanto, nem sempre somos pessoas tão “bem resolvidas” que tenhamos a capacidade de mudarmos, o que é necessário mudar, ou termos tranqüilidade e humildade para convivermos com o que de fato não está a nosso alcance transformar.
Eu, como psicóloga clínica com mais de 30 anos de experiência no acompanhamento de pessoas, me dou conta de que o primeiro passo para se alcançar o bem-estar está, exatamente, no processo de conscientização pelo qual admitimos nossos entraves e dificuldades em mudarmos o que não gostamos pois, a verdadeira mudança sempre se inicia em nós mesmos.
Admitir nossas fraquezas, imperfeições é tão difícil quanto assumirmos responsabilidade pelo comando da nossa vida e por nossas escolhas, independente do quanto agrademos ou não as outras pessoas. Muitas vezes é muito mais fácil procurarmos algo fora de nós que supostamente nos impede de experimentarmos o bem-estar, do que reconhecermos em nós mesmos a dificuldade em agir e ir “a luta” por aquilo que desejamos.
Neste sentido, a busca pelo autoconhecimento é o único caminho efetivo para que a pessoa possa estar bem, consigo própria, em primeiro lugar e, a partir de então, com as outras pessoas. Assim, creio que grande parte do que chamamos de bem-estar está associado a um processo em que a pessoa experimenta este sentido de estar bem a partir de suas próprias ações e de um maior conhecimento de quem ela é e do que almeja, honestamente, para sua própria vida.
Ticha (Patricia Albuquerque Lima)
Doutora em psicologia (CRP 05/10.906)
Professora do curso de Psicologia da UFF/ Rio das Ostras
Contato: ticha.patricia@globo.com